Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morremEnquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo
poema lido e surrupiado numa casinha tóxica
13 comentários:
Eu não sabia, mas senti isto tudo há um ano atrás quando mudei de casa, quando deixei a minha casa, a da infância, para crescer um bocadinho. (Curioso que nunca quis crescer...) Sim, as casas têm cheiro, como as pessoas. E nenhuma tem o mesmo da anterior.
E não sei o que estou para aqui a dizer... Olha, sei que vou mudar outra vez de casa e que adaptação custa sempre um bocadinho. Parece que a anterior fica sempre com um bocadinho de nós. O que não é necessariamente mau :)
Que sejas muito feliz na tua nova, ragazza (acho que isto é italiano mas não interessa nada :D) E vai dando notícias, menina!
Beijinho grande!
se a vida fosse um simples problema de respiração, era tudo mais Belo ;) de ruy Belo ;) beijo
caso para dizer que leste e surrupiaste na hora certa! lá está a teoria de que certos poemas esbarram descaradamente connosco, né? e nós agradecemos! :) já agora... o ruy belo é mesmoooo belo! eheheheh!
beijinho*
sempre as casas onde nos refugiamos do mundo que nos sufoca.
quatro paredes que nos protegem (?) do mundo lá fora, quatro paredes às quais nos confessamos (mesmo que seja apenas em pensamento),quatro paredes que tudo vêem e calam... as quatro paredes [e o telhado] que fazem a casa...
gosto tanto de Ruy Belo. tão bom encontrá-lo por estas "esquinas" ***
andreia,
chica que tienes razón! há q dar lugar a novas casas dentro de nós! Boa sorte tb na tua mudança.
alice,
inspirar, expirar! Encher os pulmões e um sopro de vida.
E sim, trouxe Ruy Belo comigo um dos essenciais q n poderia deixar de trazer).
vanessa,
sim é verdade!há poemas que nos esperam, lembras?!
night shadow,
e como precisamos delas para novamente voltarmos à rua. "Sem casas não haverias ruas".
ana,
do poeta: "Só as casas explicam que exista uma palavra como intimidade". é isso, n? :)
brilhante ruy belo!
:)
bom fds.
cometa,
brigada. também pata ti.
Sim ruy belo é isso!
lindo lindo :))))*
a ti o devo, menina tóxica :)
muito bem surripiado, sim senhor. Obrigada(*) por este poema lindo!
Ah, as casas, as casas...
:)
Beijos
(*) A ti e à menina tóxica
anabela,
;) no que me toca a mim, de nada!
:)
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