sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

(Foto: Alice Lemarin)

lá fora o sol aparece sem convocatória.

diz-nos da janela o seu abrir, resplandecente.

tiro o vestido empoeirado do armário

e visto-me para sair.

há tardes que não foram feitas para combinar

com o resto de nós que habita nos fundos da casa.

Inverno. tão demorado Inverno.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

" (...) e saio a procurar-te na cidade
contrastada violenta negativa
tu única sombra murmurada
única rua mal iluminada
única imagem desfocada e viva." *





Morten Andersen


da série "Fast city and Days of night"

para ver aqui.



* in A máquina fotográfica, José Carlos Ary dos Santos



sábado, 23 de fevereiro de 2008

(Foto:Sabina Dimitriu)


não te encontro mais à espreita da noite

onde construímos cidades de papel.


onde juntos, mastigámos o medo que trazíamos

agarrado aos dedos, soletrando-nos.


mas agora já não vens.

deixaste-me com as minhas palavras de fome e solidão.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

(Foto: Katia Chausheva)

desata o nó que deste naquela
parte trás do meu pescoço.
no momento em que baloiçava

no teu peito,
torci o movimento
em direcção aos teus lábios.
depois houve uma parte em que tudo era silêncio

e não pudeste ouvir o
estalido dos meus ossos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

(Foto: Jan Zwart)

Eram duas da tarde e já a
Tinha cheia a vagina confidenciava

Ela a uma amiga enquanto
Subiam a rua ladeada de

Hortênsias. E já um Ford cinzento
Se abeirava do passeio interrompen-

Do aquelas confidências

Jorge Sousa Braga, Uma Prostituta.
(Foto: Maarit Hohteri)

sal.

dos meus olhos cristalinos.

és.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

(Foto: Mr Toledano)

dóiem-me o joelhos.

choro com dores. todas as dores.

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne
,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Entre nós e as palavras, o nosso querer falar.
Cesariny



boomp3.com

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Hold me in your arms
may they keep me
sing me a lullaby cos i'm sleepy
i'm scared you don't need me anymore
bring me to the light of the morning
and take me through this night till the dawning
oh i see a warning in your eyes
and i don't need no valentines no no
don't need no roses
cos they just take me back in time no no
now you're not here
hold me tight tonight sleep will tend me
save me from lonely hours there's so many
and i won't get any sleep tonight
and i don't need no valentines no no
don't need no roses
cos they just take me back in time no no
now you're not here anymore
not anymore
and i don't need no valentines no no
don't need no roses
cos they just take me back in time no no
to when you loved me only
and i won't drink no aged wine no no
now you're not here anymore
not anymore
not anymore
not anymore


boomp3.com


Richard Hawley

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

How my heart behaves*
Em lentos passos cavalgo.

Cavalga o meu coração.

Lento.



* Feist




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008

(Foto: Carlos Mateus de Lima)
Produção da Companhia Paulo Ribeiro com concepção, direcção e espaço cénico de Romulus Neagu.
Interpretação de José António Correia e Romulus Neagu.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Days like this,
I dont know what to do with myself.
All day - and all night.
I wander the halls along the walls and under my breath.
I say to myself.
I need fuel - to take flight
(...)
(Fiona Apple, Sullen Girl)
(Foto: Marcin Filipowic)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"Aconteceu-me uma vez, numa encruzilhada, no meio do vaivém da multidão.
Parei e pestanejei:não percebia nada. Nada, nada mesmo:não percebi as razões das coisas, dos homens, era tudo sem sentido, absurdo. E pus-me a rir.
O estranho então para mim era que nunca tivesse dado por isso antes. E tivesse até esse momento aceitado tudo: semáforos, veículos, cartazes, fardas, monumentos, aquelas coisas todas afastadas do sentido do mundo, como se houvesse uma necessidade, uma consequência que as ligasse umas às outras.
Então o riso morreu-me na garganta, e corei de vergonha. Gesticulei, para chamar a atenção das pessoas que passavam e - Parem um momento! - gritei, - há qualquer coisa mal! Está tudo errado! Só fazemos coisas absurdas! Este não pode ser o caminho certo. Aonde vamos parar assim?
As pessoas pararam à minha volta, e observaram-me, curiosas. Eu estava no meio, gesticulava, fazia tudo para me explicar e fazê-los participar no lampejo que me iluminara de repente: e fiquei calado. Calei-me porque no momento em que levantei os braços e abri a boca, a grande revelação foi como se a engolisse, e as palavras saíram-me assim, por causa do balanço.
- E então? - perguntaram as pessoas, - o que quer dizer? Tudo está no seu lugar. Cada coisa é consequência de outra. Todas as coisas estão ordenadas com as outras. Não vemos nada absurdo ou injustificado!
E eu fiquei, desorientado, porque à minha vista tudo voltara ao seu lugar e tudo me parecia natural, semáforos, monumentos, fardas, arranha-céus, carris, pedintes, cortejos; porém daí não me vinha tranquilidade, mas sim tormento.
- Desculpem - respondi. - Talvez esteja enganado eu. Pareceu-me. Mas tudo está no seu lugar. Desculpem - e fui abrindo caminho por entre os seus olhares tensos.
Contudo, mesmo agora, sempre (muitas vezes) que me acontece não perceber alguma coisa, então instintivamente vem-me a esperança de que seja de novo a vez certa, e que eu torne a não perceber mais nada, a apoderar-me daquele saber diferente, achado e perdido no mesmo instante."
O Lampejo, in A Memória do Mundo. Italino Calvino

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

(Foto: Aino Kannisto)


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.



Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

SimpatiaéquaseAmor...
Simpatia
é
quase
Amor*!
Simpatia é quase Amor?
*lema do Carnaval no Rio de Janeiro

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Terraço do Café à Noite, Van Gogh



Magnífico foi degustar O Café* numa tarde chuvosa de um dia de Domingo, tão habitualmente, intermintente.
Ainda mais, num espaço tão privilegiado do Porto como é TNSJ. E hoje, não por acaso, conduzida pelas luzes do espectáculo, reparei que num cantinho do tecto majestoso, está inscrita a palavra POESIA. E sorri-o.



*peça escrita por Carlo Goldoni, com encenação de Giorgio Barberio Corsetti*


sábado, 2 de fevereiro de 2008

Stop the Traffic
Contra o Tráfico de mulheres para exploração sexual
Respect-ev
Contra a Mutilação Genital Feminina

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

(Foto: Rafael Soledad Matos)

nos dias tristes não se fala de aves

liga-se aos amigos e eles não estão

e depois pede-se lume na rua

como quem pede um coração

novinho em folha.



nos dias tristes é inverno

e anda-se ao frio de cigarro na mão

a queimar o vento

e diz-se bom dia!

às pessoas que passam

depois de já terem passado

e de não termos reparado nisso



nos dias tristes fala-se sozinho

e há sempre uma ave que pousa

no cimo das coisas

em vez de nos pousar no coração

e não fala connosco.



Filipa Leal