um destes dias deu por si a pensar que ultimamente se sentia presa de palavras. daquelas que se dizem alto, em conversa com outros. e poderia dizer 'não consigo falar sobre isto ou sobre aquilo', sobre afectos, sobre política, sobre um filme ou música. mas não, não conseguia simplesmente dizer. e o pouco que dizia lhe parecia desarticulado, sentia as palavras como coisa fora de si. elas fugiam-lhe sorrateiramente. sempre disse de si ser uma 'boa conversa'. é muito atenta ao ressoar dos outros, à linguagem do corpo e dos silêncios.
pensa que a linguagem é um músculo. que tem de o exercitar. e o certo é que não tem feito muito por isso. pensa que tem estado demasiado tempo presa ao indizível, a todas as tentativas de o dizer. sempre disse para si. ainda assim, há muito tempo que deixou de se ouvir e fazer eco. e por isso, todas as palavras lhe parecem estranhas mesmo quando ficam por dizer.
sair de si, sim. voltar a si para sair de si. voltar a si, sim.
16 comentários:
Um dilema realmente tentar pôr o indizível cá fora e tantas vezes não conseguir, nem de perto, nem de longe. Uma frustração quando não conseguimos que a boca, os dentes, a língua, os lábios cooperem no sentido de se manterem fiéis ao que anda cá dentro, na cabeça, no estômago, por aí.. Umas vezes por falta de coragem, outras por falta de receptores à altura da mensagem pensamos nós. Mais vale mesmo é pôr tudo na mesa e esperar pela forma como os outros irão lidar com isso...
Um prazer para uns 3 ou 4 sentidos estes teus textos!
Ah e lembrei-me disto:
"Quem já passou por essa vida e não viveu
pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença,
mesmo o amor que não compensa
é melhor que a solidão
Abre os teus braços,
meu irmão, deixa cair,
pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
de quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não..."
Toquinho
Beijo
Quem já passou por essa vida e não viveu
pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença,
mesmo o amor que não compensa
é melhor que a solidão
Abre os teus braços,
meu irmão, deixa cair,
pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
de quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não...
Meu querido,
Tão feliz que me vejas, que me ouças, daí :)
É tão bom dizer para ti, dizer-me contigo.
Gosto tanto qd te lembras destes bocadinhos de bossanova. Lindo, lindo :)
Abraço dentro, bem dentro*
tanta verdade:)
ana,
:)
é o que sinto.
Beijinho
estou sempre a rever-me nos textos dos outros, mas mesmo apesar dessa "rotina" nunca deixa de ser uma surpresa, um momento a guardar;) obrigada pelo teu sentir :)*
ana,
e são tão fortes estas empatias do sentir. é para isso que cá estamos, n?
:) Beijinhos
e quando as palavras se tornam estranhas deixamos de as dizer, e procuramos no silêncio um refúgio que possa, de alguma forma, salvar-nos.
night shadow,
e o curioso é que o título desta fotografia é exactamente "Silence" :)
às vezes, as palavras que não se dizem enchem páginas vivas - saem pelas pontas dos dedos. :)
angela,
as palavras q ganham voz no refúgio da escrita.
Bjinho
apetece-me guardar estes dizeres para mim. para saber voltar a mim quando precisar. e acho que preciso sempre. ando mesmo presa de palavras.
(muito bonito)
*
vanessa,
precisamos sempre. e tb nestes momentos enchemo-nos das palavras dos outros. como eu nas tuas, nas dos outros que fazes tuas.
Beijinho
Às vezes parece-me que, com o passar dos anos, cada vez somos menos espontâneos, cada vez temos mais receio do ridículo... Cada vez falamos menos, pois começamos a sentir que a maior parte das palavras ou frases que dizemos não fazem sentido.
Eu vejo a linguagem, também, como um músculo. Tento treiná-la, exercitá-la (como tu), rasgar as cordas que me prendem a garganta e me fazem censurar-me por vezes.
Continuo a voltar a mim.
Gostei do texto, muito sentido. Honesto.
Beijinhos doces
Ah! A foto está uma delícia (as outras também)!
ana
Brigada.
Q bom q este meu dizer chegou a ti.
Gostei: "rasgar as cordas que me prendem a garganta".
Beijinhos
Beijinhos e obrigada eu:)
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