sábado, 24 de novembro de 2007


(Foto:Gundega Dege)
"A chacun son voyage, a chacun son plaisirs"
Na próxima semana, procurarei ser...Bruxelles

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

(Foto: Graça Loureiro)

PORTO

O Porto é só uma certa maneira de me refugir na tarde,

Forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas

Palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo

Espesso destes muros a insurreição do olhar.

O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos

Dos velhos, que a certas horas atravessam a rua para

Passarem os dias no café em frente,os olhos vazios,as

Lágrimas todas das crianças de S. Vítor correndo nos

Sulcos da sua melancolia.

(...)

Eugénio de Andrade, O Porto é só


terça-feira, 20 de novembro de 2007



"Será que eu já não sei por onde procurar

ou todos os caminhos dão no mesmo..."

Lenine, Todos os Caminhos

segunda-feira, 19 de novembro de 2007


os mortos vêem o mundo

pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias

Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça

Ferreira Gullar, Os Mortos

(Foto: Aira Manna)

domingo, 18 de novembro de 2007

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade



O Navio de Espelhos

Os Poetas e Mário Cesariny

sábado, 17 de novembro de 2007

REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI

Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na
primeira página,
o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meretíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu
.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam
de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, 15 de novembro de 2007


Ursula Rucker

(...)


What

What a

What a woman

What a woman must

What a woman must do

What a woman must do

What a woman must do

Must do

Must do, must do, must do, must do, must do…

She must

Wipe away tears and reclaim strength

After rape, abortion, lover's betrayal, child's birth, child's death,husband's abuse

Tricking to buy baby shoes

She must

Be called a muse

Which is just a synonym for use

Put upon pedestals

Dainty and protected

And because of that disrespected

Victorianized

Made a paradox of famous anonymity

Left to go insane with too much femininity

Staring at yellow wallpaper


Her heart

Open

Her legs

Open

Warm and welcoming

Waiting… for phone calls that never come

Waiting… for words of appreciation that never come

Waiting… for equal pay that never comes

Waiting


Waiting, waiting, waiting

Waiting, waiting, waiting


Waiting for love

Waiting for acknowledgment not judgment

Waiting


And when seeking or achieving any kind of power

Reduced to labels like…


Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke

Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke


What

What a

What a woman

What a woman must

What a woman must do

What a woman must do

What a woman must do

Must do Must do, must do, must do, must do, must do


She must

Never settle for less based upon her womaness

Embrace the pronoun and power of SHE

Know if nothing else that her uniqueness is blessed

And a necessary component in the union between universe and people

Equal to man

At times above human understanding

She don't have to lay down for nothing or nobody

Her body in and out a wonder

The wonder of SHE


The wonder of SHE


Six feet Under e Nina Simone


Ute Lemper

I'm a stranger here myself

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Há pessoas... Há dias...
Ainda é possível dar um
"aperto de mão espiritual"
referência a Paul Auster feita por aquele, cujo coração, por estes dias, bombeia mais rapidamente.

terça-feira, 13 de novembro de 2007



Cat Power


Where is my love
Where is my love
Horses galloping
Bring him to me

Where is my love
Where is my love
Horses running free
Carrying you and me

Where is my love
Where is my love
Safe and warm
So close to me
In my arms
Finally
(...)

(Foto Geoffrey Demarquet)

Subtraída do MUNDO

Do MUNDO Subtraída
#nunca fui muito boa a fazer contas#

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas........
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que são só iguais
À mais longínqua onda do teu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo...
Natália Correia

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

"E ao anoitecer"


E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão

deixas viver sobre a pele uma criança de lume

e na fria lava da noite ensinas ao corpo

a paciência o amor o abandono das palavras

o silêncio

e a difícil arte da melancolia

Al Berto

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Maria.Maria. E...Maria

Gosto tanto de ti...Mãe de todas as bolachas.
Aqui fica a minha mais sentida homenagem à minha companheira de tantos momentos "gulescos" (inventei para ti, Maria, esta palavra).

domingo, 4 de novembro de 2007

(Foto de Geoffroy Demarquet)
"A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença:é preciso entrar e sair dela,afastar os que nos querem consolar,aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer."
(Mia Couto, Mar me quer)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Bela Acordada

"Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as
pessoas diziam-lhe:- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com
caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam
sempre dela, tanto quando era bonita como quando era feia como
agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava.
Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe que comeu a
mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe,
descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a
mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe
comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe foi pescado
pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que
não era feia. Por isso, quando as criadas foram chamar o rei e o rei
entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? . perguntaram em coro as criadas ao rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito tortas, uma
mais curta do que a outra . respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher
quando as criadas se foram embora:- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma
azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a.
Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de
Arraiolos da casa de jantar."

in Adília Lopes, Obra

Quase



Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...

Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

(Mário de Sá-Carneiro)

dito fabulasticamente por Mário Cesariny.E o pormenor do cigarro na mão.Delicioso...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

"Um minuto de silêncio"

«Hoje acordei sem silêncio no peito. Deixei queimar a pele no duche para me certificar que existia.»

excerto de um texto produzido por Olga Roriz (coreógrafa) para a obra Um Minuto de Silêncio, projecto da Associação Portuguesa de Surdos (APS).
60 personalidades portuguesas foram convidadas a descrever o som que o silêncio faz.Receitas do livro revertem a favor da APS.

Chavela Vargas
La llorona